que exerci no Pará nos annos de 1832 e 1833, os modernos historiadores d'aquella provincia, pouco escrupulosos sem duvida em deprimirem alheias reputações a troco da vangloria de estrearem f clos, que ainda não se achavam bem depurados da baba da calumnia para entrarem no dominio da historia,hão suscitado em mim tal susceptibilidade, que, ainda quando reconheça que póde ella ser tomada como importuna, não chegou a apasiguar minhas convicções sem que me anteponha a semelhantes alvitres e aleivosas diatribes. « Ainda ha pouco foi publicado o juizo, que por deliberação do Instituto interpuz acerca de duas historias do Pará, e n'elle tratei de refutar calumniosas imputações, que ahi me foram lançadas no tocante a aquelle arduo periodo de minha vida official,e que tambem offendiamá verdade bistorica, que o Instituto tein por maximo dever sustentar: e o seu honroso assentimento a quanto expendi a pró de minha justificação firmou-me mais no preposito de não consentir que passe desapercebida qualquer asserção, que indusa a pensar menos favoravelmenle sobre pontos, em que se basea minha reputação publica: e não bem destruidos os preconceitos suscitados contra mim com acintosa malevolencia, surge agora uma nova aggressão, e de especie diversa da que me foi dirigida pelo escriptor da Corographia Paraense. O Sr. Abreu Lima, quando no seu Compendio da Historia do Brasil refere-se ao Pará desde 1831 até a presente época, e á minha administração d'aquella provincia, figura-me ligado ao partido dirigido pelo conego Baptista, a quem attribue os males e vicissitudes porque tem passado a mesma provincia. «Cumpre primeiro que tudo notar, que é lastimosa e deploravel a condição que se me sobreseguiu a aquella presidencia; que além de ter soffrido os embates de opiniões diversas e disparatadas, a calumnia e a maledicencia tem-se com ella abroquelado no vão empenho de concitar contra mim a animadversão publica. O escriptor da Corographia deixa por vezes entrever que o meu procedimento foi sempre em contraste com as opiniões e dictames do conego Baptista; e o compilador da Historia do Brasil apresenta-me constantemente de accordo com ellas, e ligado ao partido d'esse coripheu, embora amainasse eu as revoltas do interior, que foram instigadas por elle. « Devendo pois repellir, como me cumpre, esta nova impulação, julgo que para esse fim posso servir-me da propria defesa com a qual refutei as que me irrogou a Corographia; e por isso: requeiro que, tendo o Instituto deliberado que fosse submettido ao exame de uma commissão especial o Compendio da Historia do Brasil, haja ella de considerar como um dos topicos da sua analyse a parte historica do mesmo compendio que é relativa ao Pará, e contra a qual reclamo; e que a illustrada commissão, recorrendo aos pontos em que no meu juizo sobre as historias d'aquella provincia, mostrei que sempre estive em perfeito antogonismo com as opiniões e proceder do individuo a quem o Sr. Abreu e Lima classifica como instigador do partido infenso ao Pará, haja de comprehender no parecer que emittir a respeito d'esta obra o juizo que forma sobre a pretendida liga que no conceito do escriptor do compendio, travei com esse partido; juizo em que me louvo, e a que me submetto, por isso que releva esperal-o imparcial e recto dos conspicuos e honrados cidadãos que compõe a commissão. e se para bem formal-o não forem bastantes as provas já alli apresentadas por mim em defesa de accusações identicas ás do Compendio, outras exhibirei, se a commissão as exigir, que destruam qualquer duvida ou hesitação, que se apresente ácerca da opposição que deparou da parte do conego Baptista a politica que me serviu de norma na presidencia do Pará. -J. J. Machado de Oliveira. » Pedindo a palavra o 2.° secretario, declara quo não póde entrar em discussão o requerimento supra, por isso que já se acha sobre a mesa o parecer da commissão sobre o Compendio da Historia do Brasil: e passa a ler o referido parecer, cuja discussão fica adiada para a sessão seguinte. OExm. Sr. presidente nomeia ao Exm. Sr. conselheiro José Clemenle Pereira para orador da deputação que em nome do Instituto deve felicitar a S. M. I. no dia 2 de Dezembro, feliz anniversario natalicio do mesmo augusto senhor. 116. SESSÃO EM 47 DE DEZEMBRO DE 1843. Assemblea geral anniversaria de cleição. PRESIDENCIA DO ILLM. SR. CONEGO JANUARIO DA C. BARBOSA Achando-se ausente, por se haver retirado para PortoAlegre, o Exm. Sr. visconde de S. Leopoldo, em confrmidade dos estatutos passa a occupar a cadeira da presidencia o Ilm. Sr. 1. secretario perpetuo, o qual declarando aberta a sessão, o 2.o secretario lê a acla da antecedente, que é approvada. Expediente.-Officio do socio correspondente o Exm. Sr. tenente coronel Ricardo José Gomes Jardim, acompanhando a remessa de tres exemplares do Discurso que na qualidade de presidente da provincia da Parahyba do Norte recitou na abertura da assembléa legislativa provincial no dia 4 de Agosto de 1843. Escreve de New-York o Sr. Luiz Henrique Ferreira de Aguiar, agradecendo ao Instituto o titulo que lhe conferiu de socio correspondente, offertando para o musĉo da sociedade uma porção de moedas de prata e cobre, e tambem um pequeno sacco, obra dos indios do condado de Niagara, estado de New-York: e remettendo igualmente para a bibliotheca as seguintes obras:-Rambles in Yucatan, or Notes of travel through the Peninsula. including a visit to the remarkable ruins of Chi-chen, Kabah, Zayi, and Uxmal; by B. M. Norman: New-York, 1843; um vol. in 8, ornado de estampas.-The Addresses and Messages of the presidents of the United States, from Washington to Tyler, embracing the executive proclamations, recommendations, protests, and vetoes, from 1789 to 1843, together with the declaration of independence and constition of the United-States; 4.a edição, New-York, 1843, um grosso volume in S. Foi outrosim offerecido para a bibliotheca: pelo socio effectivo o Sr. José Silvestre Rebello, da parte do socio correspondente o Exm. Sr. José Marques Lisboa, enviado extraordinario e ministro plenipotenciario do Brasil em Londres:-Memoirs of the Marquis of Pombal; with ex tracts from his writings, and from despatches in the state papers office, never before published; by John Smith, Esq., Private Secretary to the Marshal Marquis de Saldanha: Londres, 1843, 2 vol., in 8.°-Pelo socio effectivo o Sr. Dr. Josino do Nascimento Silva, da parte do socio correspondente o Sr. João Diogo Sturz, consul geral do Brasil na Prussia:-Minutes of the commitee of council on education, with appendices; 1840-1842: Londres 2 voi. in-8. Resolve o Instituto que o Sr. secretario perpetuo agradeça da sua parte as offertas acima mencionadas. Foi approvado um membro correspondente para a secção geographica. Leu-se o seguinte discurso, que o Exm. Sr. conselheiro José Clemente Pereira recitou como orador da deputação imcumbida pelo Instituto de felicitar a S. M. o Imperador no dia 2 de Dezembro. « Senhor. As vivas demonstrações de publico regosijo, com que o Brasil solemnisa o anniversario natalacio de Vossa Magestade Imperial, não são actos cortezãos de mera etiqueta; symbolisam o profundo reconhecimento de um grande principio politico, o principio da excellencia do throno constitucional de V. M. I. seguro penbor da ordem social das instituições de que deriva a legitimidade da sua origem « E são justos, senhor, os sentimentos de gratidão, amor e esperança, que este faustissimo dia inspira nos corações dos subditos fieis de V. M. I.: não ha coração brasileiro, que se não eleve na gioria do passado, e não anime na esperança do futuro, quando attento reflecte nos immensos beneficios que o Brasil deve ao throno Imperial, altamente consignados nos fastos da sua existencia politica. « Acontecimentos extraordinarios marcavam no horizonte politico ter soado a hora da virilidade da abençoada terra de Santa Cruz...irreflectidos decretos da mai patria, pretendendo impedir que começasse a ser d'America o que só á America pertencia, puzeram em agitação as provincias; a anarchia e a guerra civil eram inevitaveis!!! O Throno symbolisado no magnanimo principe, herdeiro de duas corôas, e mais nobre ainda por seus incomparaveis actos de heroismo, salva o Brasil com o seu memoravel -Fico, primeiro annel que encadeou os immortaes feitos da grande obra da independencia, toda sua! << Apenas o primeiro perigo era vencido, o espirito maligno da desenvolta anarchia principiava a atear de novo o facho da discordia, ameaçando dividir a tunica inconsutil de dezoito provincias irmãas. que o bem geral de todas convida a permanecer em unidas! O immortal e heroico principe, o throno, acode prompto com efficaz remedio, convoca a assembléa constituinte brasiliense, verdadeira declaração de independencia, e poucos dias depois faz solemne manifesto d'esta nos afortunados campos do Ypiranga! A' sua voz poderosa o Brasil todo obedece, anima- se e reune-se; a mai patria resigna-se, e o velho e o novo mundo correm apressados a saudar o recem-nascido imperio! Saudosas recordações! O Brasil vè-se como por encanto collocado na elevada preeminencia de nação soberana. e, para cumulo de felicidade, na posse de instituições liberaes, sem passar pelo soffrimento dos penosos sacrificios que as mais nações tem custado a sua independencia!!! Tantos e tão incom paraveis beneficios o Brasil não houvéra obtido em menos de tres annos da sua vida politica, se não tivéra por defensor o throno, o invicto principe, augusto pai de V. M. I., auctor de tantas maravilhas ! «Mas estava decretado nos altos designios da providencia que os flagellos da desgraça, não experimentados antes da independencia, nos opprimissem depois d'ella! Ingratos filhos afugentaram para longe de nós o principe salvador, o pai, o amigo que não mereciamos!!! E o Brasil houvéra perecido no desamparo da sua orphandade, se ainda o throno não fosse em nosso soccorro, nos não cobrisse com o seu escudo invulneravel, e nos salvasse! Graças a V. M. I. Vossa Magestade Imperial, anjo tutelar do céo enviado pelo inauferivel direito da sua legitima soberania, foi o nosso salvador em crise tão arriscada, assim como o tem sido depois em tantas outras, que no reinado de V. M I. tem levantado, consequencias necessarias da primeira, << E o nosso salvador e defensor perpetuo ha de V M. I. continuar a ser, para manter a ordem publica, firmar a paz, e comprimir com a força do seu braço movimentos que a impune rebeldia de novo ouse tentar: que só o ihrono tem força assaz poderosa para sustentar nossas instituições, fazer a prosperidade do Brasil, como a experiencia do passado attesta com factos irrefragaveis de gloriosa recordação. e |