conscios de seus verdadeiros interesses, reclamava os cuidados de benemeritos brasileiros, mórmente depois que, proclamada a sua independencia, se constituiram em corpo de nação, principiando uma época nova, e bem differente da que marcara no mundo o descobrimento d'este vasto paiz. Um futuro glorioso se lhes antolhava; e desprendidas as azas do genio, cortadas as prisões coloniaes que acanhavam seus vôos patri ticos, elles conheceram as innumeraveis preciosas proporções, com que o céo dolára o seu solo, e que pareciam bradar pela coajuvação das sciencias, letras e artes, para se approximarem de mais em mais da gloria nacional, que então lhes era permittido ambicionar; mas sem esquecimento de factos peculiares ao Brasil, que illustram de quando em quando a sua existencia colonial, e que eram, por assim dizer, precursores de suas futuras grandezas. Estes factos liam-se derramados em varios escriptos, ou conservavam-se amortecidos na memoria dos homens. Relatados diversamente por escriptores, ou nacionaes ou estrangeiros, não podiam até o feliz momento de proclamar-se a nossa independencia, fundar base solida a nossa nacionalidade. Foi preciso portanto que os brasileiros inflammados no amor da patria se dessem a patiotrica tarefa de estabelecer um fóco de luzes historicas e geographicas, reunindo-as de tantas recordações gloriosas, que servissem a formar um complexo de doutrinas purificadas no cadinho da critica, e digno por sua veracidade de ser levado ao conhecimento de todas as nações. Com este fim appareceu ha cinco annos o Instituto Historico e Geographico do Brasil, animado pela approvação geral dos bons brasileiros, e resoluto a desembaraçar das trevas de passados tempos a historia da patria, que só se deve escrever dignamente depois de reunidos e collocados em seus verdadeiros lugares e tempos os documentos necessarios a tão util empreza. As academias e sociedades respeitaveis do velho mundo a tem saudado como estabelecimento, que honra o genio das letras brasileiras, e promove a gloria da patria. Vós mesmos, Srs., sempre passuidos do mais ardente patriotismo, lhe tendes consagrado animadora veneração. O governo imperial, amigo das letras, porqe as letras illustram os Estados, não cessa de coadjuvar as fa digas dos que assim procuram fazer conhecida a honra da patria, e quando outros resultados não tivessem já colhido d'este recente litterario estabelecimento, bastára a certeza de que por elle as letras brasileiras se fraternisam com as do velho mundo, adiantando-se em sua marcha pelas correspondencias e escriptos scientificos de tantos sabios, que já nos honram consilerando-nos patrioticamente empenhados no progresso das sciencias, em um paiz quasi novo, abundante de objectos mal conhecidos, e arrebatado pela influencia da civilisação do nosso seculo, que sobrepuja as maiores difficuldades para chegar a seus gloriosos fins. São poucos os trabalhos que póde o Instituto apresentar ao Vosso conhecimento em tão curtos annos de sua existencia; mas ainda assim não deixam de ser gloriosos, e de nutrir a esperança de que sejam mais redundantes no correr dos tempos, porque augmenta-se de dia a dia o deposito de factos historicos, que devem servir mais commodamente aos nossos futuros historiadores, que nos archivos do Instituto encontrarão copioso cabedal sobre que trabalhe a sua critica. Deve o Instituto á honrosa benignidade, com que tem sido tratado desde a sua fundação, o relatorio de seus trabalhos e transacções academicas, que passo agora a fazer, na celebração do seu quinto anniversario, contando com as Vossas attenções. O Instituto tem cumprido o artigo de seus estatutos mandando nos dias de maior solemnidade uma deputação de seu seio a felicitar a S. M. o Imperador, nosso augusto immediato protector. O honroso acolhimento que estas deputações tem sempre recebido, e as benignas respostas que S. M, tem dado aos seus oradores, confirmam a idea de que o Instituto continúa a merecer do Throno a mais alta e animadora protecção. Fundado debaixo de seus auspicios, este litterario estabelecimento parece destinado a marcar os fastos memoraveis do reinado do Senhor D. Pedro II; nem escapam ao buril da historia tantos acontecimentos que se vão succedendo, e que levarão o nome de tão amavel principe á mais remola posteridade, acompanhado dos gloriosos epithetos de Protector das letras, sciencias e artes, amigo e pai de seus patricios e subditos. Todos esses acontecimentos ficarão assim mais estampados na memoria dos homens, do que escriptos, passados annos, e já decahidos de suas primitivas cores. Um principe e uma princeza de duas illustrissimas casas europeas, cujo sangue se mistura ao de S. M. o Imperador por antigas e gloriosas allianças, vieram estreitar os vinculos de amizade e parentesco, que já ligavam a dynastia brasileira á dos francezes e napolitanos. Este acontecimento, que promette grandes vantagens ao nascente imperio, facilitou ao Instituto opportuna occasião de offerecer a SS. AA. RR. os Srs. principes de Joinville, e conde d'Aquila, diplomas de presidentes honorarios, categoria reservada em seus estatutos aos soberanos e principes, que se dignarem corresponder-se comnosco como amantes e protectores das letras. O Instituto vê d'est'arte crescer o numero de seus socios, gloriando-se de fazer chegar o conhecimento de seus trabalhos aos degraus de poderosos thronos, que em todos os tempos se distinguiram pela sua decidida protecção ás letras. Tambem na côrte pontificia conta o Instituto mais um socio honorario no eminentissimo cardeal May, que aceitando o nosso diploma nos escreveu de seu punho, lisongeando-se da nossa offerta, e offerecendose em pról das nossas uteis lucubrações. Continuam em activa correspondencia, tanto quanto permittem as difficuldades na troca dos nossos impressos com os de outras sociedades e sabios, as relações estabelecidas. dentro e fóra do imperio. Temos recebido constantes provas de apreço e amizade, não só por honrosas correspondencias e offertas de preciosos trabalhos academicos, como tambem por signaes não equivocos de fraternal confiança, recommendando-se-nos distinctos e sabios naturalistas, que passam ao Brasil encarregados de investigações interessantissimas á historia e geographia dos paizes ao sul da linha. O Instituto tem-se franqueado benigno a estes testemunhos de honrosa confiança e zelo pelas sciencias, que lhe deram em suas cartas M. Jomard e visconde de Santarem, distinctos membros das sociedades de Geographia e Ethnologica de Paris, abrindo o seu archivo e bibliotheca aos Srs. conde de Castelnau e visconde d'Osery, por elles recommendados. Estes sabios naturalistas vão à frente de uma commissão scientifica, ordenado pelo ilustrado governo francez, pene trar grande parte dos nossos serlões e serras, até passarem se aos Estados nossos conterraneos banhados pelas aguas do Pacifico Partiram já do Rio de Janeiro, e deverão atravessar toda a America Meridional, seguindo com pouca differença a linha de divisa entre as aguas que corre para o norte, principalmente ao Amazonas, e as que correm ao sul e se vão reunir ás do Prata. Depois de chegados a Lima, explorados alguns paizes circumvisinhos, sua volta se effectuará por um dos affluentes occidentaes do Amazonas, ou pelo mesmo Amazonas, e finalmente pela Guiana Franceza. Na primeira parte d'esta immensa viagem continental do Rio de Janeiro a Lima, a expedição se achará em tal vizinhança de supposta posição do Equador Magnetico, que facil The será dividir em muitos pontos convenientemente espaçados, a fim de que se possa traçar para o futuro, e sem incerteza, essa importante linha magnetica ao travez de um dos dois. grandes continentes, onde sua direcção ainda é incerta. O projecto d'esta interessante expedição, e dirigida por um tão distincto sabio como é o Sr. conde de Castelnau, não podia deixar de merecer a sincera e prompta coadjuvação do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, em tudo que fosse do seu alcance. O Sr. de Castelnau encontrou n'esta associação litteraria, que se honra de o contar como seu membro, amizade franca, e esclarecimentos preciosos, que difficultosamente acharia de outro modo. porque já são mui dispersos e raros. Receberam recommendações para as auctoridades e pessoas gradas das nossas provincias interiores, e conta o Instituto que assim auxiliado poderá esse illustre viajante mais commodamente desempenhar a sua trabalhosa missão scientifica até ás fronteiras do Imperio. Os factos que a sciencia em geral tem de colher de tão importante quão difficil empreza, chegaráō tamben, a historia e geographia d'este paiz. O Sr. conde de Castelnau, e o Sr. visconde d'Osery mostraram-se honrosamento agradecidos á nossa hospitalidade, e coadjuvação. Muito lastima o Instituto que ainda o governo imperial não tenha as necessarias proporções para fazer acompanhar essas commissões scientificas, que o amor das sciencias traz ao nosso imperio para examinarem as matas, rios e montanhas do nosso interior, de alguns jovens engenheiros e naturalistas das escolas militar e medica, que muito aproveitariam a si e ao Estado, praticando com distinctos sabios, colhendo muitos esclarecimentos de que ainda carecemos, e muitos productos naturaes que enriqueceriam o Museu Nacional, a escola pratica, que assim esses jovens frequentassem, dilalaria a esphera de seus conhecimentos, dilatando a nossa gloria pela habilitação de engenheiros e naturalistas, que se devem empregar em muitas commissões que o governo tem de emprehender. Tempo virá em que esta idéa tenha o seu necessario desenvolvimento, para que se não diga que os estrangeiros sabem mais do nosso do que nós mesmos. Ainda bem se não ausentaram d'este porto para a provincia de Minas Geraes os viajantes francezes de que fizemos menção, e já uma nova expedição do governo dos EstadosUnidos desembarcava em nossas praias, composta de habeis engenheiros e naturalistas, e dirigida pelo habil official de marinha o Sr. I, G. Strain. Este sabio militar havia sido recommendado pelo nosso socio o ministro de Portugal em Washington, o Sr. Joaquim Cesar de Figaniere Morão, a alguns membros do Instituto, para que o apresentassem á nossa associação como digno da nossa estima, edos bons officios que costuma prestar aos homens de letras. Não se enganou o Sr. Figaniere, pois qne o Sr. Strain foi recebido pelo Instituto com todas as demonstrações de franqueza e amizade de que é digno. Franquearam-se-lhe os nossos archivos, e elle se tem mostrado agradecido ao nosso benigno acolhimento. Esta expedição tem de penetrar o interior do Brasil, demandando de Mato Grosso os affluentes do rio Amazonas alé descer ao Pará. Parece que se endereça aos mesmos fins da expedição franceza, posto que por differentes caminhos. Depois de algumas investigações nos arrabaldes d'esta cidade, pretende em breves dias passar-se ao porto de Santos, e d'ahi à S. Paulo, e aos lugares que lindam com os Estados nossos conterraneos. O Sr. Strain presenteou ao Instituto com um rico volume de folio, da obra intitulada-Crania Americana, ou exame comparativo dos craneos de varias nações indigenas da America Septentrional e Meridional: pelo Dr. Samuel Jorge Morton, impresso em 1839. |