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Assistente da Companhia como ao Cardeal Protector e Cardeal Antonio dareis sempre a entender em primeiro lugar passaes a Roma como pessoa particular, emquanto vos não pareça hé ocazião acomodada de vos declarardes mais nesta materia, o que só podereis fazer primeiro, que aos outros, ao Assistente da Companhia.

Temse neste Reyno alguas noticias de que o animo do Cardeal Protector não he igual á confiança que delle fiz para aquella ocupação, nem tem feito por estes Reynos as affectuozas deligencias que lhe merece o meu animo. Mas porque estas noticias podem ser menos verdadeiras, e inculcadas por alguns emulos do Cardeal, procurareis com toda a destreza, consideração, e cautella informar vos, assim do Assistente da Companhia como de outras pessoas graves que vos parecer de qual seja o animo e procedimento do Cardeal nesta parte, e me avizareis do que achardes, para vos mandar responder o que tiver por conveniente.

Mas logo que estiverdes informado do referido (o que fareis brevemente) sendo a informação qual for, procurareis vezitar o Cardeal como hum fidalgo Portugues, que favorecido de meus ministros ides a Roma a negocios particulares vossos, dando lhe a minha primeira carta que para elle levais, e introduzindo por este modo a vossa negoceação, procurareis alcançar delle com destreza as primeiras noticias não mostrando (ainda no cazo de achardes delle ruins indicios) desconfianças, nem fazendo demonstração por obra, ou por palavra de que conheça terdes conhecido o seu animo.

Porem sucedendo que acheis o procedimento do Cardeal muito conforme ao que se deve esperar de hua pessoa tam grande e de tantas qualidades como elle hé, e tenhaes por conveniente declarardes vos com elle na forma do 2.o (?) despacho (cuja pratica deixo a vossa dispozição e acerto) o fareis.

E lhe direis vos mando a essa Corte a entender o ultimo estado em que se acha o provimento dos bispados destes Reynos que hé o mais importante negocio que tenho em Roma; por ser verdade que pelos seus despachos de 15 de Outubro do anno passado me avisou, que Sua Santidade The segurara resolveria este negocio, e consolaria estes Reynos ate Dezembro do mesmo anno, para o que tinha ordenado aos Cardeaes vissem, estudassem, e consultassem sobre a materia para o informarem do que convinha.

Que sendo estes seus avizos duplicados, e por hua tal pessoa, e de

tanto sequito, e autoridade em Roma dignos de se lhes dar todo o credito, e de se renovarem com isso as esperanças destes Reynos, sendo passado bum anno, em que vierão muitas naus de Italia, se não recebeu ategora carla ou avizo do que Sua Santidade detreminasse nesta materia, o (?) que vos mando entender por ultima rezolução, e dezengano que disso espero de Roma.

Qualquer resposta que a isto vos de o Cardeal procurareis verificar pelo Assistente, e pelo Cardeal Antonio Barberino a quem vesitareis, pela boa vontade, e particular affeição que lhe devem estes Reynos, dando lhe a minha carta que para elle levaes pelo mesmo modo, e ao mesmo tempo com que haveis de introduzir vossa pratica com as outras pessoas; avendo vos porem com tal advertencia, que na pratica que tiverdes com elle não mostrareis nunca desconfiança do Protector. Esta mesma averiguação fareis com as pessoas com quem conferirdes sobre qual seja o animo do Protector em meu serviço.

Não perdereis tempo em vos introduzir com as pessoas mais idoneas e aceitas a Sua Santidade diante das quaes procurareis mostrar com vivas razões a justa obediencia destes Reynos a See Apostolica, pois sem embargo de tantos desenganos e disfavores, como experimentou el Rey meu Senhor e Pay que Deos tem todo o tempo de seu reinado, e eu logo que entrei na Coroa destes Reynos, em que por merce de Deos lhes sucedi sem controversia algua, assim, e da maneira que qualquer outro Principe sucede em sua Coroa, tomando agora o Governo delles, e vendo me falto da benção Apostolica, me resolvo a buscalla a seus santos pees, como obedientissimo filho da Igreja Romana, e a solicital a por todos os meyos decentes a minha dignidade e authoridade Real; e que por mais obrigar a Sua Santidade me conceder, e a estes Reynos a graça por que há tantos annos eu, e elles sospiramos estou pronto e disposto para dar a Sua Santidade toda a satisfação de qualquer queixa (se houver algua) destes Reynos.

Mas quando não sejão bastantes todas as demostrações que estão feitas, e de novo mando fazer em Roma para Sua Santidade deferir aos justos clamores destes Reynos e de tantas ovelhas sem pastor nas mais remotas partes do mundo faltas de sacramentos e de toda a consolação e remedio espiritual, do que tem resultado gravissimos dannos, fareis entender ás mesmas pessoas com destreza sem dizer positivamente, que não faltão muitas pessoas doutas que me aconselhão, que mande fazer neste

Reyno hua junta de todas as pessoas de que costumão formarse os consilios nacionaes, seguindo o exemplo de outros Principes que assim o detreminarão em acções menos justificadas.

E que desenganado de que não tenho que fazer em Roma mande guardar, e observar inviolavelmente tudo o que na dita junta se detreminar, como se fosse resoluto em hum consilio nacional sem recurso, ou regresso algum; entendendo que Sua Santidade pois não defere as justas queixas destes Reynos e suas Igrejas, perdidas ha 22 annos, se não deve achar em liberdade para lho dar havendo me do mesmo modo que se Sua Santidade estivera cativo em poder de Barbaros, pois o mesmo vem a ser não ter liberdade para lhe poder acodir como Pay universal, spiritual, e Pastor da Igreja.

E que de todos os meyos de que pudera uzar neste cazo he este o mais justificado, e que qualquer rezolução que pelas razões referidas tomar nesta materia com Roma sempre ha de ser debaxo da condição e protestação de a tornar a buscar todas as vezes que Sua Santidade prezente ou futuro se remir do invensivel temor, que lhe ata as maons para não dar a este Reyno a benção Apostolica.

E que elles em semelhante demonstração não fazem outra couza que acabar de conformar se com as antigas e modernas insinuações de Roma, porque Innocencio 10.° deu muitas vezes a entender por seus ministros desejava que estes Reynos tomassem com Roma hua tal rezolução de sentimento que The servisse a elle de desculpa para com os castelhanos e a nós de remedio, e que os meyos de que Sua Santidade ategora tem uzado mostrão bem ter o mesmo animo que seu antecessor.

Que a duvida, ou queixa que deste cazo poderia rezultar á Christandade não carrega sobre minha conciencia, pois fiz tudo quanto pude por que Sua Santidade remediasse tantos dannos estando há tantos annos sustentando em obediencia da Santa See Apostolica tantas Igrejas, Provincias e vassallos de que se não achará exemplo em todas as historias do mundo e isto á custa dos mayores escrupulos, perdas e inconvenientes, e tudo com quebra de minha authoridade Real e que de tudo o sobredito, que me aconselhão, não quiz eu ategora uzar, esperando sempre que Sua Santidade dispuzesse as couzas de modo, que pudesse eu alcançar justiça.

A estas razões acrecentareis outras conforme a esperança ou desengano de remedio, declarando sempre que entenderes (?) que esta há de ser a ultima deligencia que por minha parte se ha de fazer na Corte de

Roma, quando com ella se não consiga o effeito: estas mesmas razões mandarey escrever a Sua Santidade quando se tenha por justo fazello. Advertindo que a pratica da junta que agora mando fazer dareis somente como por novas, e por modo que possa cauzar algum receyo a rezolução que nella se tomará, mas não de maneira que pareça ameaço expresso, nem que o referis como ministro, mas que como particular dais estas novas, formando vos so juizo do que pode succeder.

Este proprio desengano que derdes aos ministros de Sua Santidade pela mesma maneira introduzireis nos Portuguezes que se acharem em Roma, tanto aos Cortezãos antigos, como aos pertendentes modernos, para que todos entendão que em consequencia da rezolução que tomar ficão obrigados a se recolher a este Reyno no termo que lhes for assinado, com tal condição, que vindo fora delle não serão admitidos.

E porque para que os officiaes da Camara Apostolica possão ajudar este negocio, lhes fareis entender as grandes utilidades que recebem destes Reynos que totalmente se lhes evitarão se Sua Santidade não mandar cuidar muito delles, e tomar a rezolução de lhes deferir, como he justo, e obrigado.

De nenhua maneira vos metereis em impetras de beneficios nem fareis, ou fallareis por vós ou por outrem, nem consentireis o fação os moradores de vossa Casa em negocio algum para que não tenhaes ordem minha, porque de mais de o contrario ser de grande desauthoridade, terá consequencias muito dignas de atalhar, alem de se atrazarem com pertenções particulares os negocios comuns. Por esta razão vos hey por muito encomendado o disposto neste capitolo, e o não derogarei com carta minha a favor de pessoa algua.

De tudo o que passardes nestes negocios me ireis avizando por todas as vias seguras com toda a clareza, e sem respeito a pessoas particulares, para que meus ministros fundados nas noticias que derdes, me possão aconselhar o mais conveniente; e assim para estes avizos, como para os que haveis de fazer aos ministros e embaixadores que tenho fora do Reyno a quem mando escrever vos ajudem e assistão nesta negoceação, se vos entregarão cifras na Secretaria de Estado.

Pode acontecer vos seja necessario fazer promessas em meu nome a alguas pessoas, ou ministros de Roma que se detreminem a facilitar a detreminação de Sua Santidade e dos Cardeaes, e ministros a quem se cometer o negocio; e neste cazo lhes podereis prometer penções e bens

ecclesiasticos neste Reyno, segundo o serviço que cada hum me fizer; mas nestas promessas vos havereis com toda a segurança e prudencia não as fazendo senão com effeito do negocio.

No meyo das satisfações e sumições de que uzardes para vos introduzir em Roma, o fareis tambem de palavras de grande sentimento e misterio, sem vos perturbarem, nem intimidarem as cavilações e ameaças dos Castelhanos, pois com esta mesma razão cometo a demonstração deste negocio (no cazo que seja necessario fazella) a hua tal pessoa como vós, e da vossa profição, e não a pessoa ecclesiastica.

Poder vos hão ser de grande utilidade as recomendações del Rey da Grande Bretanha meu bom irmão e Primo, e por isso mando ordenar ao Marquez de Sande meu Embaixador extraordinario (?) naquella Corte vos assista dali com cartas del Rey para os amigos e confidentes que tem em Roma, e que vol as remeta e se comunique comvosco, dando vos todos os avizos que lhe parecer e tiver por convenientes, porque vós levaes ordem minha para fazer o mesmo.

Com os Cardeaes da fação de França embaixador e ministros daquella Coroa fareis toda a boa correspondencia dando a entender a Roma que sem embargo da paz de França com Castella os Reys de Portugal e França se amarão e tralarão sempre intrincicamente, e não havera couza que persuada ao contrario, porque podera servir este termo de algum bom effeito, entre esta e aquella Coroa procurando entender do Assistente da Companhia, e das mais pessoas de credito de que fizerdes confiança, quem são naquella Corte, assim estrangeiros, como naturaes os mais affeiçoados a este Reyuo para os conservardes na boa correspondencia que merecem procurando tambem adquirir a vós os mais sugeitos, que seguirem esta opinião.

O Abbade Laubretiere (sic) frances se offereceu a meu serviço (?) dizendo ser Camareiro de Sua Santidade, e se mostra affeiçoado as couzas destes Reynos; procurareis entender a sua valia, e avizar me, conservando o sempre a minha devoção, de qualquer sorte que seja o seu poder.

Tendo audiencia de Sua Santidade lhe dareis de todas as razões que ficão apontadas as que vos parecerem mais efficazes justificadas e proporsionadas a o presuadir, começando pelas da humildade e justificação, e acabando porem com as de sentimentos e dezengano; mas em nenhum cazo dareis memoriaes ou papeis sobre o direito do Reyno, e pedindo se vos respondereis vocalmente que a See Apostolica está muito bem infor

TOMO XIV.

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